terça-feira, 4 de novembro de 2014

A Máquina

Dentre tudo aquilo que é inexorável, ele é o mais. Talvez a própria inexorabilidade dependa dele. A entropia sempre aumenta por causa dele. Tudo o que é bom e o que é ruim é consumido por ele para nunca mais voltar. Apenas os estímulos provocados por algumas sinapses sobram, para tentarem nos provar que algo realmente um dia existiu. Quando o texto é lido, cada frase vira um conceito abstrato, para entende-lo as três ultimas coisas ditas estão bem claras na mente do leitor, já a quarta... Está sendo consumida. Ela já cumpriu sua sentença. Mas o leitor não deve se afobar, é bom que ela tenha cumprido seu papel e que tenha sido esquecida. Como haveria o leitor de entender o que é dito agora se aquele significado contido na introdução estivesse até agora se misturando com tudo o que está sendo lido? Seria inviável. Por essas e outras razões o que passou, passou e o que vem ainda não existe, portanto, pode ser mudado. E é para isso que os humanos servem à existência.

Não é possível medir a inexorabilidade infinita de algo, mas, apesar disso, ele ainda pode ser medido. E para isso um oscilador harmônico balança de um lado ao outro. O movimento parece nele começar, mas não começa. Começa em um grande peso cuja massa é aproximadamente cinquenta quilogramas preso à quinze metros de altura. Nele está contida a energia potencial gravitacional que faz com que o oscilador se mantenha em movimento, enquanto a energia ainda existir no peso que, pendurado por um cabo de aço, transmite a força para um carretel que, por sua vez, a transforma em torque, que é um tipo de força circular, que é por sua vez transmitido atravéz de uma série de rodas dentadas até uma engrenagem especial onde, para um lado, um sistema dosa a quantidade de energia que vai para o oscilador, para o outro move um sistema de indicadores que têm a função de mostrar quanta energia foi jogada fora. 

O oscilador é um peso preso à uma haste de tamanho fixo. A haste não é simples, é formada por metais engenhosamente configurados para que a dilatação térmica de um cancele a do outro, tudo para manter o comprimento fixo independente da temperatura ambiente. Uma mola estrategicamente colocada evita que o oscilador receba mais energia do que um dado limite. Caso a energia passe, um arredondamento matemático feito para simplificar uma formula que seria, em sua forma mais simples, uma equação diferencial ordinária faria com que houvesse um erro, que se acumularia durante o funcionamento da máquina. Se mais energia ainda fosse para o sistema oscilador, ele poderia começar a colidir com outras peças, causando um desgaste prematuro, ruído e mais perda desnecessária de energia.

Um engenhoso sistema existia para avisar sonoramente quanto de energia já havia sido desperdiçada pelo sistema. Outro peso também de aproximadamente cinquenta quilos, também estava preso à quinze metros de altura por um cabo que também puxava um carretel cujo movimento era amplificado por rodas dentadas. Mas dessa vez eles levavam à uma roda cujo movimento era retardado por abas que atritam com o ar quando em movimento. O atrito aumenta com o quadrado da velocidade, entretanto, a velocidade aumenta linearmente graças à força peso. O que resulta em um ponto de equilíbrio onde a velocidade de rotação é constante. O movimento só acontece por causa de outro sistema que libera, de meia em meia volta do indicador do outro sistema. Quando isso acontece, o sistema aciona um martelo que bate em um sino. No primeiro quarto de volta, entretanto, um sistema recolhe uma catraca que faz com que o sino bata progressivamente, a cada volta, uma batida a mais, até um dado limite, onde a catraca é reiniciada.

Era uma máquina incrível. Ela simplesmente mostrava explicitamente a entropia funcionando. Mostrava o quanto é efêmero tudo aquilo que existe. E como tudo é consumido. Como toda a energia que está em algum lugar tende a se espalhar por todo o universo e tudo tende a se tornar frio e escuro.

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Testando pra ver se eu ainda sei escrever...

Queria escrever qualquer coisa só por escrever mesmo, faz tempo que não escrevo nada, então eu resolvi começar a escrever.
Eu me sinto um bosta porque não sei gramática direito. Sinto que isso é uma coisa importante. Sintaxe e essas coisas. Não existe semântica sem a sintaxe, se parar para pensar. Queria saber as classes gramaticais, as funções sintáticas, isso é muito louco. O mais impressionante é que isso tenha surgido sem o total planejamento. As pessoas começam a emitir sons umas para as outras por necessidade de comunicação. Duvido que alguém antes de ter dito "uga buga" ou algo parecido tenha se preocupado com o que são substantivos, adjetivos, verbos, advérbios e essas porras todas.
Acho que esse vai ser outro texto que eu vou deletar assim que terminar de escrever. Eu faço muito disso. Principalmente quando eu fujo do assunto e começo a falar coisas que são muito incertas. Coisas que não estão sólidas em minha mente. Não que exista alguma coisa plenamente sólida na minha mente, é difícil ter certeza total de alguma coisa. Aliás, eu diria que é impossível. Eu só assumo certas certezas por que seria inviável se comunicar sem elas. Por exemplo, se eu, quando estivesse conversando com você, começasse a duvidar que você está mesmo aí, isso faria com que a nossa conversa ficasse estranha porque eu estaria pensando em uma coisa tensa ao mesmo tempo que estaria tentando pensar no que responder quando você me perguntasse qualquer bosta que as pessoas normalmente conversam sobre, como por exemplo qual a minha banda preferida ou qual programa de tv eu mais gosto de ver. Se bem que é bem mais divertido pensar sobre nossas próprias existências do que falar sobre bandas ou programas de tv. Principalmente programas de tv.
Não me venha falar de programas de tv. Aliás, esse é um dos motivos que eu acho que me fazem conversar tão pouco com a maioria das pessoas, elas falam muito sobre coisas que eu não conheço e pouco sobre o que eu conheço bem. Não as culpo por isso, muito pelo contrário, é uma escolha totalmente minha me fechar nesse mundo da matemática e da tecnologia... Não to nem aí pra quem vai ganhar a eleição ou se o pt roba mais que o psdb, se o time de futebol tal paga tantos milhões para tal jogador e essas merdas todas. Não ligo MESMO. Eu não ligo pra muitas coisas. Não gosto de falar isso também por que muita gente diz que não liga para parecerem legais ou qualquer outra coisa, mas na verdade elas ligam sim e só querem parecer algo que não são. Como isso é comum, é natural que, estatisticamente, você assuma que uma pessoa que fala que não liga para algo na verdade ligue
Mas o mais bizarro não é isso. O mais bizarro é quando elas passam a te odiar por não concordar com o que elas falam. Aí é foda. Mas por outro lado é bom por que fica fácil de escolher amigos, é só discordar de tudo que uma pessoa que você não goste fala. O problema da tecnologia é que muitas vezes a pessoa já sabe sobre o que você gosta e sobre o que você não gosta por causa das redes sociais. É só entrar lá no perfil da pessoa e fuçar por uns 10 minutos, decorar o nome de umas 4 bandas, 5 filmes, alguns lugares... De preferência os menos conhecidos que a pessoa vá, por que se for um lugar, banda ou filme que muita gente conheça você não vai parecer especial. Pesquisando um pouco você pode fingir que é a pessoa perfeita para qualquer outra pessoa. Aí quando a pessoa falar sobre algo que você gosta sabendo que você gosta e você disser que não gosta ela vai pensar que você é maluco. Ou ficará na cara que você tá tentando afugentar a pessoa. De uma forma ou de outra o resultado não será exatamente o planejado... Isso me preocupa levemente pois no meu facebook eu curto só coisas aleatórias. Não dá pra descobrir absolutamente nada sobre o que eu gosto ou sobre o que eu não gosto pelas coisas que eu curti lá.
Até por que eu curto coisas que eu detesto por que eu gosto de conhecer. "Conheça teus inimigos." As pessoas falam bostas e eu fico pensando que o mundo está mesmo perdido. Eu gosto disso. Eu estava ouvindo hoje mesmo uma música extremamente irritante e estava gostando. Olhei para dentro de minha alma e achei estranho. Eu gostava da intensidade do que estava sentindo. Era uma espécie de masoquismo musical. Me impressionava em quanto aquela música era irritante, mas eu não parava de ouvir. Procurei mais.
Voltando ao facebook, sobre as coisas que as pessoas curtem, se parar para pensar, não dá pra descobrir nada sobre ninguém vendo o que a pessoa curte. Isso só faz com que ela se identifique com determinados grupos sociais, o que no fundo não significa nada. O que significa se uma pessoa curte madona e outra curte o Eminem? Bosta nenhuma. E se uma pessoa vota no pt, outra no psdb, outra no tiririca e outra detesta política e vota nulo pq "foda-se"? Também não quer dizer merda nenhuma. A ignorância de uma pessoa em um determinado aspecto não diz nada sobre sua índole e nem sobre nada. Só diz mesmo a respeito daquele determinado assunto.
É por isso que eu acho medalhas bizarras. Se eu ganhasse uma medalha por alguma coisa imbecil que eu faça, tipo sei lá, ser campeão de montagem de cubo mágico subaquática, isso não vai significar nada. Eu venderia a medalha. Talvez não vendesse se ela fosse de ouro. Ouro é um elemento muito interessante... Mesmo se fosse alguma coisa importante. Se fosse importante de verdade para a humanidade meu nome seria eternizado já, foda-se a medalha. Medalhas só servem para você impressionar as outras pessoas. Conseguir bajuladores. "Venha cá, filho.. Vou te mostrar minhas medalhas!"
Taí a última coisa que eu quero na vida: Bajuladores. Às vezes eu encho o saco de pessoas que eu gosto de verdade, imagina se houvesse uma horda de fingidores? Eu me isolaria em uma ilha. Eu hein.
Mas voltando a falar de coisas interessantes de verdade, tem uma coisa sobre a qual eu gostaria de escrever. Faz algum tempo que ela está me perturbando....
É sobre tudo. Isso é bem vago, mas vai se esclarecer com o tempo... É o seguinte, tudo o que conhecemos, só conhecemos por que, de alguma forma, afetou o sistema sensorial de alguém. Ou melhor, de toda uma comunidade de pessoas (cientistas) que refizeram experimentos e consolidaram uma teoria como válida. Isso significa que só é possível conhecer aquilo que podemos detectar direta ou indiretamente. Isso não é bizarro? Poderia existir alguma coisa que não interage com a matéria que conhecemos, tornando assim impossível de se conhecer pois nossos corpos são feitos de matéria! Eu acho anticientífico duvidar da existência de algo fora do que percebemos pois a qualquer momento podemos descobrir algo. Se ignorarmos definitivamente a possibilidade, nunca testaremos algo a respeito. Enfim. Outra coisa interessante é que determinadas coisas podem interagir com umas coisas e não com outras. Por exemplo, elétrons e prótons têm interações elétricas. Nêutrons não. Mas eles interagem com os prótons por meio da força nuclear fraca. Além disso eles têm massa, então a gravidade atua sobre eles também. Os testes em aceleradores de partículas podem parecer idiotas e perigosos, mas se parar para pensar, seria possível descobrir uma partícula que possa interagir com as partículas que conhecemos e com um monte de outras que não conhecemos. Seria um mundo inteiro de descobertas! Nós só percebemos o que percebemos da natureza por questões evolutivas. Por exemplo, só notamos pela visão as frequências do vermelho até o violeta pois provavelmente essas são as frequências que mais são refletidas pelas coisas e, principalmente, por predadores, tornando possível nossa sobrevivência. As borboletas conseguem ver ultravioleta, provavelmente elas precisam se orientar por essa frequência. Talvez algum predador reflita muito mais essa frequência do que as outras e ela se adaptou assim... Não tem por que percebermos algo que não pode nos danificar. Por isso se existem outras partículas por aí que não interagem com a gente, não tem como percebermos. Eu fico pensando, e se existirem interações unilaterais? Por exemplo, um tipo de partícula que a matéria age sobre, mas não se tem resposta, não existe uma reação? Poderíamos a cada movimento estarmos criando e destruindo universos inteiros sem percebermos. E como seria o contrário? Coisas que agem sobre a matéria sem qualquer reação... Isso foge tanto à logica convencional que é difícil pensar sobre... Mas o mais interessante é que os cientistas descobriram forças que não agem diretamente sobre as pessoas. Isso é incrível. A força nuclear forte e fraca não agem diretamente sobre os seres humanos. Elas agem apenas dentro dos átomos. E dentro das partículas subatômicas. Se, por exemplo, uma partícula subatômica que origina um próton puder se comunicar, por meio de uma força desconhecida, com partículas fora do nosso plano de conhecimento, muitas coisas poderiam ser descobertas. Seria como se tivéssemos outro sentido além dos cinco! Talvez fosse possível descobrir alguma coisa que vá além da velocidade da luz. Não sendo essa coisa exatamente feita de matéria isso não teria problema nenhum. Coisas que se comunicam instantaneamente poderiam ser criadas. Talvez um bug na matrix possa aparecer... Algo que possibilite o teletransporte. Algo físico mesmo, nada de destruir a pessoa de um lado e reconstruir do outro... É muito louco ficar pensando sobre essas coisas. Vou postar sem edição e foda-se.



domingo, 17 de agosto de 2014

Enquanto isso, no mundo perfeito...

Era um mundo perfeito. Tudo funcionava bem. O sistema era impecável e controlado por inteligência artificial. Os banheiros eram limpos e cheirosos, exceto em raras exceções...
Ele estava atrasado para uma reunião de negócios. Sua obrigação era apresentar idéias criativas e colocá-las em prática. Depois que a inteligência artificial superou à dos seres humanos, o foco de todo trabalho passou a ser exercer a criatividade. Finalmente conseguimos nossa liberdade escravizando a matéria, não a nós mesmos. Não a outros seres vivos. Mas não é bem assim... Ainda somos seres vivos. Ainda possuímos hierarquias e machos alfa. Isso está escrito em nós com brasa, e é feito antes de nascermos pela nossa própria natureza.
A passos largos, não tão largos assim... Caminhava pelo corredor. Tinha medo. Suava frio. Não temia pela reunião, pois havia decorado tudo o que falaria. Já havia criado todos os relatórios e todo o material necessário para apresentar suas idéias, inclusive protótipos. Não havia o que errar, decorou os tópicos para prevenir brancos que nunca ocorriam, pois é assim que vive quem ama o que faz. E é assim que vivem a maioria das pessoas hoje, em um tempo moderno ou pelo menos neste universo paralelo dentro da minha mente...
Ele sentia que algo inevitável aconteceria dali a poucos instantes, precisava fazer algo e rápido. Seus passos ficavam cada vez mais esquisitos e suas pernas mais próximas. Era uma sensação estranha mas familiar. Sentia que algo sairia de dentro dele e não tardaria a borrar suas roupas de baixo.
Procurou um banheiro rapidamente, entrou sentou e o ato foi sendo consumado lentamente. Era preciso concentração. Era preciso pensar em coisas divertidas. Era preciso criar. Era um momento perfeito para criar. Terminou. Sua bela criação, complexa e harmoniosa, estava armazenada em sua memória de curta duração, era necessário se limpar rapido para poder encontrar um lugar para anotar.
Sentimentos podem borrar toda uma estrutura previamente pensada. E foi o que aconteceu. Não tinha limpól-bundól! Sua ira era claramente perceptível. Uma veia em sua tempora esquerda saltava latejante sempre que sentia sensações intensas. A respiração ofegante, o suór frio. Seu ódio pela falha imperdoável do sistema. O sistema jazia em pedaços no chão, pois algo, quando deveria ser perfeito, mas não é, por menor que seja a sua imperfeição, passa a ser a coisa mais lastimável de todo o multiverso.
Seu dedo trêmulo era movido pela ira em direção ao orifício por onde acabara de sair toda sua criatividade em forma de delírio marrom, adentrou-se e buscou um pouco daquele alívio pastoso. Foi pintada com ele, nas paredes daquele lavatório sagrado, sua obra mais memorável, medindo quase cinco metros quadrados, um inferno amaldiçoado por demônios e criaturas repugnantes no qual um morcego, de todas elas, a criatura menos repugnante que por ali existia, erguia um tecido aos trapos, como se nos quisesse dar as boas vindas, de onde se lia, em letras góticas antigas, o seguinte:

"Deus caritas est. 
&
A magnis penis intra ani systematis."

sexta-feira, 7 de março de 2014

A Estamina

Não dá para fazer alguma coisa bem feita por muito tempo. É como correr, você corre por uns dez minutos e antes disso já está morrendo. É como em algum jogo, você tem uma barrinha de estamina e ela vai se acabando. Para cada coisa que você faz tem uma barrinha. Conforme o tempo passa essa barrinha vai se esvaindo e você vai ficando um lixo nessa coisa. Por sorte podemos fazer muitas coisas e para cada uma delas à uma barrinha. Quando se cansar de correr pode descansar e comer alguma coisa. Quando a barrinha da comida esgotar, pode ir jogar algum jogo idiota ou conversar com alguém sobre qualquer coisa, depois que essas barrinhas acabarem você volta pra casa e vai dormir, ou sei lá, pode ler um jornal ou qualquer outra coisa antes de ir dormir. Talvez ficar na internet como um imbecil. O problema disso é que às vezes a barrinha acaba e você nem se dá conta. Então é como se você estivesse correndo sem perceber. Esse é o problema das drogas, na verdade. Elas te amortecem e por causa disso você não sente que sua barrinha acabou. É como se você continuasse correndo e correndo e correndo louca e desgraçadamente por aí sem perceber que está sentindo dor, que os músculos da sua perna estão produzindo ácido sulfúrico. Você simplesmente não percebe e corre até se acabar. Alguma parte do seu corpo pifa. Se seu coração não pifar suas pernas quebram, os músculos se dilaceram, sua pressão cai e você desmaia. Mas que alguma merda dá, isso é inevitável de acontecer...
Quando você vive em uma monotonia isso significa que você vive alternando entre as mesmas duas ou três barrinhas, isso também é um problema porque elas estarão sempre em baixa aí você começa a pensar que o que está em baixa é a sua vida. Mas a barrinha da vida é bem mais duradoura do que a dessas porcarias que você pode andar fazendo por aí... Por isso é bom termos o máximo de barrinhas que pudermos, alguém assim nunca está de saco cheio ou com tédio.

Caramba, virou mó reflexão isso aqui, e eu só queria reclamar!

quinta-feira, 6 de março de 2014

Um exercício literário

Tem uma casa amarela na minha rua. Ela me faz pensar. Não que casas amarelas sejam o tipo de coisa que me fazem pensar, mas esta casa em especial me faz pensar. Não que nela more uma bruxa ou alguma coisa do gênero, nada disso, ela é só uma casa amarela. Térrea. Não tenho a menor ideia do que tenha dentro dela. Às vezes vejo um velho entrando ou saindo dela. Aqui na rua onde estou moram muitos velhos. Acho que ninguém gosta de morar aqui, por isso só os velhos que já moravam aqui antes, quando era um lugar agradável, permaneceram por aqui. Difícil imaginar aqui como um lugar agradável. O que mais vejo pela janela, além da casa amarela, é miséria. Miséria de tudo. Miséria material, intelectual, sentimental. Vejo casas miseráveis ao longe e perto também. Existem algumas árvores que foram envolvidas pela miséria. As casas menos miseráveis são casas hipócritas. Elas apenas aparentam serem menos miseráveis, mas basta ver qualquer pessoa que more dentro dela que tudo muda. Não que seja um problema a hipocrisia em si, o problema é o que ela tenta esconder, não há nada de errado na hipocrisia em si. Aliás, ela é algo necessário para a convivência saudável entre as pessoas. As pessoas são malucas, juro que são... Elas não suportam que outras pessoas sejam diferentes delas, por exemplo, se eu falo pra alguma pessoa tatuada que eu nunca faria uma tatuagem, ela acharia isso um absurdo, começaria a perguntar se eu tenho medo que doa ou algo parecido. Se eu falasse que não faria porque não gosto da ideia, aí a coisa fica preta. Porque ela vai achar que eu tenho que achar a ideia legal só porque ela acha. E se não achar a ideia boa é como se eu achasse a pessoa inteira ruim só por causa da droga da tatuagem. E o pior de tudo é que eu não acho. Não acho mesmo, eu até gosto de algumas. Principalmente as tatuagens dos meus amigos. Gosto mesmo delas, de verdade. Só não me sinto confortável com essa ideia quando se refere à mim. O que acontece é que todas as pessoas ficam fingindo serem todas iguaizinhas por causa disso. Umas querem agradar as outras parecendo iguais, aí o que acontece é que vemos um bando de falsos todos fingindo serem iguaizinhos. Iguais uma ova. Duvido que exista uma pessoa sequer no mundo que pense igual à outra pessoa. Isso é impossível. Eu gosto da ideia de um mundo onde as pessoas aceitem as diferenças. As diferenças são maravilhosas. Aliás, é exatamente por causa das diferenças que estamos vivos até hoje, pois se não houvessem diferenças genéticas em determinada população, a evolução não funcionaria de jeito nenhum. A natureza tem um conceito diferente de evolução. Para a natureza sobreviver é evoluir. Para a gente evoluir é melhorar. Não vejo melhora nenhuma em manter-se vivo. Mas essa diferença é importante e é sempre importante lembrar dela, evita certos conflitos idiotas.
Agora a pouco ouvi um barulho de batida de carro, não foi muito alto, mas também não ouvi uma freada muito brusca. É um problema quando a freada não é brusca pois ela absorve boa parte da energia que pode ser usada para esmagar o corpo do motorista contra a lataria do carro. Quando olhei pela janela vi que quem havia se envolvido no acidente era uma moto e um carro. Quando olhei tinha um motoqueiro mancando tirando o capacete e indo sentar na sarjeta, enquanto outro estava parando sua moto. Motoqueiros são uma raça muito unida, sempre que um cai todos os outros param para ajudar. Não importa quantos tenham. Se tiverem quatrocentos motoqueiros em uma avenida e um deles cai, todos os quatrocentos param para ajudar. Acho isso fantástico. O mundo seria melhor se todos tivessem essa característica dos motoqueiros. Afinal, todos somos humanos antes de sermos motoqueiros ou qualquer outra coisa. Mas acho que se todos fossem motoqueiros o trânsito fluiria bem melhor. Acho que o acidente quebrou sua moto, pois ele parecia muito indignado. Era triste ver. O mais triste é que eu reparei isso por causa da sua expressão corporal inteira. Não era possível ver seu rosto em detalhes pois eu estava longe, mas seus gestos mostravam claramente que ele estava indignadíssimo. Não acho que ele tenha se machucado muito, ainda bem, motoqueiros estão sujeitos a se machucarem absurdamente. Não sei se eu teria uma moto. Acho que se tivesse não andaria pela cidade. Pelo menos não como um louco costurando por entre os carros. Procuraria caminhos sem carros, mesmo que este caminho fosse três vezes maior. O que eu gostaria mesmo é de viajar por aí com uma moto. Eu iria até o México com uma moto. Sempre quis uma imersão cultural na terra dos nossos irmãos latinos... Antes eu achava espanhol uma língua esquisitíssima, mas aí eu ouvi uma mulher cantando em espanhol e eu fiquei alucinado. É impressionante como algumas mulheres têm a capacidade de mudarem completamente nossa visão sobre alguma coisa. Isso pode ser um problema, na verdade. Principalmente se ela faz você ter uma visão diferente sobre ela mesma... Pelo menos antes de você saber quem ela realmente é. Isso pode custar uns dois anos da sua vida. Talvez se você for mais velho isso pode não significar muita coisa, mas quando você tem vinte e poucos anos isso representa dez por cento da sua vida. Eu não desperdiçaria dez por cento de uma pizza, quiçá de uma vida. É, mas tem coisas que acontecem que nos deixam completamente fora de controle. Aliás, a gente só pensa que tem controle sobre alguma coisa, na verdade não temos controle coisa nenhuma. Acho que temos menos de dez por cento do controle de tudo. Os outros noventa por cento são gerados pela interação do seu corpo com o ambiente. Aliás, pensando assim acho que é bem mais do que noventa por cento. Não temos controle de coisa nenhuma, essa é a verdade, só pensamos que temos.

Na verdade, hoje, eu comecei a escrever só para ver se eu ainda consigo escrever alguma coisa aleatória começando um assunto sobre uma coisa nada a ver. Acho isso um bom exercício. Isso indica que a pessoa está sempre preparada para escrever sobre qualquer coisa. Acho que todo mundo deveria fazer este exercício, é muito divertido. Você olha pra qualquer coisa lá fora, pela janela, ou qualquer outra coisa, pode ser um copo de leite, uma sujeira na parede, uma privada, um telefone, uma melancia... QUALQUER COISA. Então você começa a escrever sobre essa coisa. Quando começar a escrever, inevitavelmente você vai pensar em milhares de coisas relacionadas com isso. Então você escolhe a mais legal e começa a falar sobre ela. Então vai começar tudo de novo, essa nova coisa vai te lembrar milhares de outras coisas... Então você terá um texto totalmente digressivo. Não é o tipo de texto que as pessoas mais gostem, elas provavelmente vão pensar que você é maluco, mas isso é bom como um exercício. Pensando nisso, acho que outro exercício muito legal é o desafio de juntar dois assuntos, por exemplo, você tem que começar falando sobre uma banana e terminar falando sobre engenharia aeroespacial. Um dia quero fazer isso. Bom, por hoje é isso. Escrever é um ótimo exercício. Ler também é. Preciso ler mais. Olha que desgraça, não consigo parar de escrever. Bom, fui ^^

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

O taxista piradão

Essa história que eu vou contar pra vocês aconteceu de verdade. Um amigo de um tio meu tem um primo que conhece um cara que é um milionário piradão. E é a história desse cara que eu vou contar agora:
Era um cara que sempre gostou de dirigir, mesmo quando não sabia fazer isso, fazia em jogos de simulação de direção e outros. Seu pai era empresário e tendo ele como único filho o fez estudar economia e gestão de empresas, a final, quem iria gerir sua empresa de lingeries comestíveis após a sua morte?
Ao completar quinze anos passou a cumprir rigorosamente todas as infindáveis regras impostas por seu pai, que o ameaçava em por na internet o vídeo de quando ele o pegou se masturbando vestido de bailarina.
O tempo passou e nosso protagonista se tornou um verdadeiro empreendedor. Mas seu sucesso não foi devido à empresa de seu pai, mas a uma descoberta brilhante que proporcionou a criação de uma empresa gigantesca que o tornou multimilionário: Criou o "spray de pirlimpimpim" como o chamava. O que nada mais era do que um spray triplo, anti chama, anti adesão de qualquer sujeira e borrachudo. seu spray servia desde para impermeabilização de carpetes, de telhados industriais e até mesmo como preservativo.
Em seu pai não cabia tanto orgulho, porém algo muito perturbador estava por vir: Seu pai morreu de uma forte alergia no pinto, que se espalhou por todo seu corpo ao utilizar o spray que seu próprio filho criara. Muito perturbado, nosso protagonista estava sem rumo e não sabia mais o que fazer. Era dono de duas empresas agora que herdara de seu pai a fabulosa indústria das lingeries comestíveis, possuía todos os bens materiais e até alguns não muito materiais devido aos seu spray imperial de pirlimpimpim, possuía uma coleção de carros que nunca tivera o prazer de dirigir pois aprendera com seu pai que dirigir é coisa de empregado, mas não possuía nenhuma felicidade verdadeira, seu destino era incerto e sua angústia era infinita. Para ele sua empresa não valia mais nada, pois nada traria o seu pai de volta.
Foi então que uma conversa controversa que teve com um morador de rua mudou o rumo de sua vida por completo:

Mendigo: Cara, me vê um cigarro aí, cara!
Protagonista: Toma. - deu-lhe seu maço que acabara de comprar, mas já não sentia a menor vontade de fumar.
Mendigo: Qual seu problema cara?
Protagonista: ?
Mendigo: Eu pedi UM cigarro, qual é o seu problema, cara???
Protagonista:...
Mendigo:...
Protagonista: Ah! São tantos...
Mendigo: Qual o que? Você é um burguês de merda! Tem tudo o que quer! Até sua cueca é engomada! Se quiser comer, come o que quer em qualquer sentido que queira! Você tem o carro que quiser, se quiser alugar um helicóptero, aluga, se quiser alugar uma pessoa, aluga também! Você é a porra de uma pessoa que pode fazer praticamente tudo o que quer, mas em vez disso vem encher meu ouvido que já está quase entupido da mais fedorenta cera com essas suas palavras... burguesas!
Protagonista: Eu... Eu não entendo...
Mendigo: Não entende o que, porra?

Ele não entendia como o mendigo sabia que ele era rico e poderoso sendo que fizera de tudo para parecer maltrapilho, saiu de casa com as roupas de ontem, não se perfumou nem nada habitual.

Protagonista: Como você...
Mendigo: ?
Protagonista: Porque acha que eu sou burguês?
Mendigo: (cai às gargalhadas) Como assim? Você tem cheiro de burguês, você fala como burguês, você me olha como burguês, você anda, se move e gesticula como burguês. Você tem áurea de burguês. E, pelo amor de deus, você acha que essa calvin klein aí não é coisa de burguês? Qual é a tua, cara? Fugiu de algum sanatório? (cai novamente às gargalhadas)
Protagonista: ... bem... na verdade...
Mendigo: (interrompendo-o) ham? To esperando...
Protagonista: Na verdade eu... ganhei essa roupa de um.. Na verdade eu roubei ela e...
Mendigo: (estrebuchando no chão de tanto rir) Cara! Você é cômico! Você é a porra do burguês piradão mais teimoso e cômico que eu já vi! O que mais vai inventar? Esteve preso também?
Protagonista: ...
Mendigo: Oras... Fale a verdade! Vou te contar uma história. Quando eu tinha família, um primo de terceiro grau meu era piradão, assim como você. Um dia ele acordou e não levantou da cama. Quando seus familiares mais próximos o interrogaram, ele afirmou que estava morto. Disseram à ele que cadáver não fala e era pra ele parar de sacanagem e levantar logo. Ele respondeu que não estava falando, era uma transmissão psíquica de sua voz. Então falaram a ele que era pra ele parar de ser trouxa porque eles viam a sua boca mexendo. Então ele disse que a visão dele era uma transmissão também. A coisa foi ficando séria, eles perceberam que nada adiantava, chamaram outros familiares, chamaram benzedeira, chamaram padre, chamaram a porra toda de todas as religiões e macumbas possíveis para tirar o demônio qualquer que ele tinha. Por fim levaram ele no psicólogo. Um psicólogo de rua, ele era diferente... Ele era um cara que sabia das coisas... Ele virou assim pro meu primo e falou: "Cara, você não tá morto, vou te provar isso. Pensa no seguinte, morto sangra?" Meu primo respondeu: "Não" Então, esse psicólogo aí fez um cortinho no dedo do meu primo, com uma navalha, então meu primo arregalou os olhos como em uma epifania e proferiu o seguinte: "Caralho velho! MORTOS SANGRAM!"
Protagonista:...
Mendigo: Fala alguma coisa porra!
Protagonista: Nem sei o que dizer....
Mendigo: Ora, não se identifica com meu primo?
Protagonista: Porque eu haveria de me identificar?
Mendigo: PORRA! É exatamente o que você está fazendo, você vai manipulando os argumentos sempre de forma a agradar aquilo que você quer parecer. E você quer parecer que não é burguês. Mas caralho, tudo indica que você é a porra de um burguês safado pra caralho!
Protagonista: Tá bom.. Eu me rendo, eu sou burguês, contente?
Mendigo: É você quem deveria estar contente por ter conseguido se livrar de sua teimosia. A maioria das pessoas que eu conheci que tinham isso aí foram parar em um sanatório...
Protagonista: Bom, eu vou-me embora...
Mendigo: Caralho! Você não tinha um problema para me contar?
Protagonista: Não, eu tenho tudo, minha vida é perfeita porque eu sou burguês, lembra?
Mendigo: Mas que caralho! Como você é teimoso! Conta logo a porra do seu problema!
Protagonista: Não sei o que estou fazendo aqui perdendo tempo discutindo com um babaca...
Mendigo: UI! Você ofendeu agora! Fez dodói na minha alma! (e caiu na gargalhada novamente)
Protagonista: Até...
Mendigo: Porra! Volta aqui! Eu to gostando dessa discussão, você até me insultou! Tá certo que foi insulto de burguês, mas não deixa de ser um insulto... Conta logo seu problema! Ou o que você acha ou achava que era um problema...
Protagonista: Gosta de ser insultado?
Mendigo: Não é essa a questão... a questão é a dialética... Mas vamos deixar de conversa mole, conte logo o que te aflige!
Protagonista: Ah! É uma história meio longa....
Mendigo: Cara, eu sou mendigo, não tenho porra nenhuma pra fazer o dia inteiro, a semana inteira e o mês inteiro, se você me der cigarros o suficiente, eu posso ficar anos ouvindo o que você tem para me dizer. É essa minha função no mundo, ouvir o que as pessoas que estão na merda a ponto de notarem que eu sou uma pessoa têm para me dizer.
Protagonista: Eu nasci em uma família cheia de privilégios, meu pai era empresário e quando eu era criança....
E contou a história inteirinha ao mendigo, sem tirar nem por....
Protagonista: Então foi isso, depois que meu pai morreu me sinto angustiado e não sei que rumo tomar, não sei o que fazer com minhas duas empresas...
Mendigo: Cara, você é locão! Se eu tivesse uma dessas empresas aí, a menor que fosse, eu poderia comprar papelão e fazer um barraco mó style cara! Céloco!
Protagonista: Eu to tão de saco cheio dessas coisas que se você quiser pode ficar com uma delas.
Mendigo: Mas fala aí, cara, o que você gosta MESMO de fazer, além de bater umas bronhas locas vestido de bailarina na frende do espelho?
Protagonista: Eu não estava na frente do espelho...
Mendigo: Putamerda! A coisa é bem diferente do que eu pensava então... Pensei que você tivesse alguma tara por bailarinas, não por SER uma bailarina....
Protagonista: ...
Mendigo: Mas enfim, o que você gosta de fazer? O que te deixaria completo?
Protagonista: Ah! Eu gosto de dirigir! Sempre fui fascinado por isso... Aprendi a dirigir sem meu pai saber... Ele queria que eu nunca tivesse aprendido, dizia que era inútil e coisa de empregado...
Mendigo: Cara! Você tem a profissão errada! Porque você não é taxista em vez de empresário?
Protagonista: Nunca pensei nisso... Mas eu já falei que meu pai me obrig...
Mendigo: Mas o véio não bateu as cachuletas? Então foda-se tudo o que ele te ensinou, vende sua empresa aí e compra um táxi, cara! A hora é agora! Você acabou de nascer, sua vida ainda nem começou de verdade!
Protagonista: Hm... Interessante ideia...
Mendigo: Ideias valem um pãozinho? Eu to com fome, cara...

Foi assim que nosso protagonista passou a ser taxista empresário piradão. Ele deixou a empresa do seu pai com o mendigo que o ajudou a perceber que não era gente na verdade, mas uma mera extensão do seu pai e, agora que ele não existia mais, precisaria tomar seus rumos e comandar sua própria vida.
Mas ele não era um taxista qualquer, como gratidão ele pegou seu melhor carro, era um Volvo fosco pretão, o carro com mais cara de mal que alguém poderia ver, transformou-o em um táxi e saiu por aí pra pegar a galera. E, além do carro ser diferente, ele não cobrava pelo seu serviço. As pessoas se aproximavam timidamente, sem acreditar direito que era um táxi, mais para saber o preço que deveria custar.... Era meio assim:

Cliente: Cara, é real isso aí? Isso é um táxi mesmo?
Protagonista: E porque não haveria de ser? Não está escrito táxi? Pra onde vocês querem ir? O céu é o limite! Podemos ir para qualquer lugar! E precisamos fazer isso rápido! A vida é a gora, não temos tempo a perder, acabamos de nascer e a vida é muito efêmera para discussões desprovidas de fortes emoções!
Cliente: T-tá... Mas quanto custa?
Protagonista: Custar? Não custa nada! Entra logo aí! Eu preciso te contar freneticamente a história da minha vida, você precisa contar a sua, precisamos trocar experiências e precisamos fazer isso logo! Nosso tempo está se esgotando! Cada segundo que passa é um segundo a menos vivido! Entra aí cara! Eu nasci em uma família cheia de privilégios, meu pai era empresário e quando eu era criança....