quinta-feira, 20 de julho de 2017

Jazia sua bunda em uma cadeira, pés no chão, olhar fixo no monitor. Os dedos se mexiam sem parar. Não pensava em nada. Não sentia nada. Apenas digitava. Sem parar. Tecla após tecla. Nada surgia na tela. O som dos dedos nas teclas reverberava pelo espaço vazio. Era tudo vazio. A sala, os quartos. A casa inteira estava vazia. Nenhuma alma se encontrava naquele ambiente. Apenas o som das teclas se fazia ouvir. Mas ninguém escutava. Do lado de fora a noite fria e escura madrugada adentro era permeada pelo uivo sombrio dos ventos cujos sons eram ouvidos por ninguém. E na rua, estacionados estavam dois carros velhos e surrados. Um era verde o outro azul. Dentro deles não havia ninguém. Do outro lado da rua havia uma casa em cujo jardim havia plantas que cresciam lentamente. Ela tinha um porão e dentro deste porão não havia solidão, pois até a solidão precisa ser sentida por alguém. No final daquela rua sem saída havia uma última casa. No fundo da casa, havia uma edícula. Dentro da edícula havia um quarto arrumado como quem o arruma para nunca mais voltar. Sobre a cama, nenhuma dobra, nenhum vestígio de qualquer criatura viva. Não havia poeira em cima dos móveis. Não havia sapatos debaixo da cama. Se houvesse alguém naquela cama e fosse uma pessoa curiosa, olharia pela janela, veria o prédio de oito andares que havia na rua de cima e se questionaria sobre aquele apartamento de luz acesa. Quem estaria insone uma hora dessas? Ninguém. Aquele quarto num apartamento do sexto andar daquele prédio de oito andares que se localizava na rua de cima e cuja luz estava acesa encontrava-se na mais profunda solidão. Diferentemente do quarto acima, encontrava-se completamente bagunçado. Seja lá quem for, a última criatura que de lá saiu tinha algum motivo para fazê-lo bem rapidamente. Talvez seja esse o motivo da luz estar acesa. Talvez, por ser de LED, a lâmpada ainda não tivesse queimado. Não é possível saber por quanto tempo ela estivera acesa. Nem por quanto tempo estará...

quinta-feira, 13 de julho de 2017

fiquei com preguiça de terminar mas vou postar mesmo assim

Ela era formosa. Dropava dragões invertidos enquanto corria fornida pelas pradarias virtuais. As folhas das árvores cibernéticas balangavam soltas pelo espaço-tempo. Um sussurro grave se fazia ouvir quase imperceptível. Ele vinha das montanhas que barravam as tsunamis no vento que soprava forte e implacável por toda atmosfera. Em seu cume, dragões unicórnios prateados lancinantes em cujos chifres haviam amarradas as cordas do balanço que sustentava um casal de namorados, cuspiam fogo congelado pelo tempo. Eles balançavam preguiçosamente à sorte do vento e do tempo. O sussurro cantarolava timidamente cantigas nóricas da era medieval. O casal de polvos enamorados, entrelaçados de tal forma que não era possível saber que tentáculo era de quem, estavam paralisados eternizando o momento. Ela fazia piruletas mágicas enquanto os dragões voltavam no tempo. Eles ouviam as canções nórdicas de trás para frente, parecia uma ciranda épica. Satanás observava tudo, escondido atrás de uma árvore. As borboletas causavam inveja nas folhas secas e mortas que se desprendiam das árvores e cujo destino era a decomposição. Satanás morria de vontade de apanhá-las no ar. Seu pelo branquinho refletia o sol, ofuscava quem o olhasse diretamente a quilômetros de distância. Mandrágoras cresciam lentamente enquanto o leito do rio de leite transparente exibia o ritual amoroso dos baiacus amarelos. Eles amorteciam a marola causada pelo maromba que nadava desengonçado. Desgovernada, uma mula descia a ribanceira ao longe. Ela,sonâmbula, sorria e sonhava com o saudoso sorvete de salame. Satanás via tudo de soslaio. A mula observava seu trajeto cuidadosamente com seu monóculo enquanto deduzia cada movimento a partir da análise metódica de cada desnível do solo. Os baiacus, em êxtase, rebatiam de volta toda marola do maromba maroto, que observava tudo muito intrigado. O farfalhar do trigo ao trote dos três trasgos troncudos que trajavam trapos, trazia os trevo a gargalhar.