terça-feira, 4 de novembro de 2014

A Máquina

Dentre tudo aquilo que é inexorável, ele é o mais. Talvez a própria inexorabilidade dependa dele. A entropia sempre aumenta por causa dele. Tudo o que é bom e o que é ruim é consumido por ele para nunca mais voltar. Apenas os estímulos provocados por algumas sinapses sobram, para tentarem nos provar que algo realmente um dia existiu. Quando o texto é lido, cada frase vira um conceito abstrato, para entende-lo as três ultimas coisas ditas estão bem claras na mente do leitor, já a quarta... Está sendo consumida. Ela já cumpriu sua sentença. Mas o leitor não deve se afobar, é bom que ela tenha cumprido seu papel e que tenha sido esquecida. Como haveria o leitor de entender o que é dito agora se aquele significado contido na introdução estivesse até agora se misturando com tudo o que está sendo lido? Seria inviável. Por essas e outras razões o que passou, passou e o que vem ainda não existe, portanto, pode ser mudado. E é para isso que os humanos servem à existência.

Não é possível medir a inexorabilidade infinita de algo, mas, apesar disso, ele ainda pode ser medido. E para isso um oscilador harmônico balança de um lado ao outro. O movimento parece nele começar, mas não começa. Começa em um grande peso cuja massa é aproximadamente cinquenta quilogramas preso à quinze metros de altura. Nele está contida a energia potencial gravitacional que faz com que o oscilador se mantenha em movimento, enquanto a energia ainda existir no peso que, pendurado por um cabo de aço, transmite a força para um carretel que, por sua vez, a transforma em torque, que é um tipo de força circular, que é por sua vez transmitido atravéz de uma série de rodas dentadas até uma engrenagem especial onde, para um lado, um sistema dosa a quantidade de energia que vai para o oscilador, para o outro move um sistema de indicadores que têm a função de mostrar quanta energia foi jogada fora. 

O oscilador é um peso preso à uma haste de tamanho fixo. A haste não é simples, é formada por metais engenhosamente configurados para que a dilatação térmica de um cancele a do outro, tudo para manter o comprimento fixo independente da temperatura ambiente. Uma mola estrategicamente colocada evita que o oscilador receba mais energia do que um dado limite. Caso a energia passe, um arredondamento matemático feito para simplificar uma formula que seria, em sua forma mais simples, uma equação diferencial ordinária faria com que houvesse um erro, que se acumularia durante o funcionamento da máquina. Se mais energia ainda fosse para o sistema oscilador, ele poderia começar a colidir com outras peças, causando um desgaste prematuro, ruído e mais perda desnecessária de energia.

Um engenhoso sistema existia para avisar sonoramente quanto de energia já havia sido desperdiçada pelo sistema. Outro peso também de aproximadamente cinquenta quilos, também estava preso à quinze metros de altura por um cabo que também puxava um carretel cujo movimento era amplificado por rodas dentadas. Mas dessa vez eles levavam à uma roda cujo movimento era retardado por abas que atritam com o ar quando em movimento. O atrito aumenta com o quadrado da velocidade, entretanto, a velocidade aumenta linearmente graças à força peso. O que resulta em um ponto de equilíbrio onde a velocidade de rotação é constante. O movimento só acontece por causa de outro sistema que libera, de meia em meia volta do indicador do outro sistema. Quando isso acontece, o sistema aciona um martelo que bate em um sino. No primeiro quarto de volta, entretanto, um sistema recolhe uma catraca que faz com que o sino bata progressivamente, a cada volta, uma batida a mais, até um dado limite, onde a catraca é reiniciada.

Era uma máquina incrível. Ela simplesmente mostrava explicitamente a entropia funcionando. Mostrava o quanto é efêmero tudo aquilo que existe. E como tudo é consumido. Como toda a energia que está em algum lugar tende a se espalhar por todo o universo e tudo tende a se tornar frio e escuro.