Era um mundo perfeito. Tudo funcionava bem. O sistema era impecável e controlado por inteligência artificial. Os banheiros eram limpos e cheirosos, exceto em raras exceções...
Ele estava atrasado para uma reunião de negócios. Sua obrigação era apresentar idéias criativas e colocá-las em prática. Depois que a inteligência artificial superou à dos seres humanos, o foco de todo trabalho passou a ser exercer a criatividade. Finalmente conseguimos nossa liberdade escravizando a matéria, não a nós mesmos. Não a outros seres vivos. Mas não é bem assim... Ainda somos seres vivos. Ainda possuímos hierarquias e machos alfa. Isso está escrito em nós com brasa, e é feito antes de nascermos pela nossa própria natureza.
A passos largos, não tão largos assim... Caminhava pelo corredor. Tinha medo. Suava frio. Não temia pela reunião, pois havia decorado tudo o que falaria. Já havia criado todos os relatórios e todo o material necessário para apresentar suas idéias, inclusive protótipos. Não havia o que errar, decorou os tópicos para prevenir brancos que nunca ocorriam, pois é assim que vive quem ama o que faz. E é assim que vivem a maioria das pessoas hoje, em um tempo moderno ou pelo menos neste universo paralelo dentro da minha mente...
Ele sentia que algo inevitável aconteceria dali a poucos instantes, precisava fazer algo e rápido. Seus passos ficavam cada vez mais esquisitos e suas pernas mais próximas. Era uma sensação estranha mas familiar. Sentia que algo sairia de dentro dele e não tardaria a borrar suas roupas de baixo.
Procurou um banheiro rapidamente, entrou sentou e o ato foi sendo consumado lentamente. Era preciso concentração. Era preciso pensar em coisas divertidas. Era preciso criar. Era um momento perfeito para criar. Terminou. Sua bela criação, complexa e harmoniosa, estava armazenada em sua memória de curta duração, era necessário se limpar rapido para poder encontrar um lugar para anotar.
Sentimentos podem borrar toda uma estrutura previamente pensada. E foi o que aconteceu. Não tinha limpól-bundól! Sua ira era claramente perceptível. Uma veia em sua tempora esquerda saltava latejante sempre que sentia sensações intensas. A respiração ofegante, o suór frio. Seu ódio pela falha imperdoável do sistema. O sistema jazia em pedaços no chão, pois algo, quando deveria ser perfeito, mas não é, por menor que seja a sua imperfeição, passa a ser a coisa mais lastimável de todo o multiverso.
Seu dedo trêmulo era movido pela ira em direção ao orifício por onde acabara de sair toda sua criatividade em forma de delírio marrom, adentrou-se e buscou um pouco daquele alívio pastoso. Foi pintada com ele, nas paredes daquele lavatório sagrado, sua obra mais memorável, medindo quase cinco metros quadrados, um inferno amaldiçoado por demônios e criaturas repugnantes no qual um morcego, de todas elas, a criatura menos repugnante que por ali existia, erguia um tecido aos trapos, como se nos quisesse dar as boas vindas, de onde se lia, em letras góticas antigas, o seguinte:
"Deus caritas est.
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A magnis penis intra ani systematis."