''Uma gota cai em uma piscina de aço (com 2 centimetros de agua) que contorna o planeta. Produz um som ressonânte e agudo, o qual é transmitido por uma onda que é partida ao se chocar num único ponto.''
Acordei confuso... se fosse diferente poderia ser perigoso. Não gosto muito de enfatizar nem de fantasiar o que conto, apesar do que tenho de contar seja um tanto quanto estranho. Quando acordo, acordo e pronto.
Prazer, Zorzo. Sou professor, até ai nada de estranho. Moro num andar alto, todo dia acordo e observo o que se passa nas ruas e avenidas que contornam meu prédio.É tudo sempre igual, vejo bolas de plasma percorrendo as calçadas. Imaginem um balão de gás hélio preso por um cordão. Sim, isso é o que define se o ser é um ser humano. Todo ser humano tem sua bola de plasma que flutua em cima da cabeça preso por um tubo transparente.
Existem coisas que só eu posso ver. Minha infância foi bem complicada até descobrir que só eu podia ver certas coisas. Posso definir o que é e o que não é um ser humano. Acreditem, tem seres que me assustam desde criança por parecerem humanos. Esses seres apareceram de várias formas durante minha vida, tentando me atrair ou convencer de algo. Mas tive medo e ignorei.
Quando jovem, queria me isolar numa ilha com livros e instrumentos, sobrevivendo de pesca e cultivo de plantas. Agora descobri que não preciso de uma ilha. As próprias pessoas conseguem fazer muito bem o papel do mar.
A poucos dias descobri de um jeito estranho como é produzido e transmitido toda energia do planeta. Existe um muro enorme num ponto especifico do planeta. Existe um buraco nesse muro que se comporta oscilando sob freqüências diferentes. Quando achei esse buraco foi complicado encontrar sua passagem. Precisei pular no segundo exato em que as duas partes de parede se encontravam totalmente opostas e ressonantes. Entrei, olhei para os lados e percebi que estava na tangente de um circulo enorme que girava. Junto com ele girando o chão era inclinado e girava ao contrario. Parecia uma infinita escada se caminhasse oposto e com mesma velocidade ao chão. Olhei para cima. Esse circulo era o ponto de eixo de uma cruz que atravessava o planeta. Ou seja, existiam dois pontos de eixo interligados, pois existiam duas cruzes. Esses pontos de eixo atravessavam o planeta por dentro e giravam. Eles faziam com que metade de uma linha da cruz atingisse a linha perpendicular no sentido horário (mas o que realmente pode ser considerado sentido horário onde não foi estabelecida nenhuma dimensão?), quando atingisse, essa metade de linha voltava e aquela que foi atingida se direcionaria para a próxima metade de linha. E assim por diante. Para visualizar isso o eixo partiu sob constante aceleração até poder se estabilizar.
Não fez sentido. Mas foi legal.
Ando pelas ruas, me deparo com vários casais com suas bolas de plasma. Tem casais que conseguem fundir suas bolas numa bola unica de plasma, mas são poucos. Isso é estranho, e não faz sentido nesse planeta. Mesmo que já tenha acontecido comigo, mesmo que me faça falta, mesmo que...
Perto de onde vivo, existe um grande plano branco. Sim ele existe para ser somente um grande plano branco. As pessoas passam por ele todo dia e pensam: Grande Plano Branco.
Eu nunca fui ver esse grande plano branco, sei que existe, sei onde fica, sei o que ele é : Grande Plano Branco.
Apartir disso começa a parte estranha que tenho que contar...
Na verdade apartir daqui eu não conto mais nada, tenho já projetado algo ou alguém que vai me observar sobre minha ida ao grande plano branco. Algo me diz que possa ser perigoso.
1- ''Prazer, Nº 3. Sou algo ou alguém que não possui bola de plasma, mas Zorzo não sabe disso. Tenho unica e exclusiva função de observar. Mas assuntos ficaram em aberto...''
Então Zorzo encostou sua caneta na mesa, fechou o caderno e se pôs a descansar com um leve receio do que acabará de fazer e decidir.
Acordou confuso... isso o tranqüilizava. Foi até sua janela, abriu e olhou para baixo. Tudo normal, bolas de plasma vagando pelas ruas e calçadas. Se arrumou, hoje iria saber o que era realmente o grande plano branco.
O caminho até sua chegada era um tanto particular, passara por zigue zagues, vai e vens, tudo ao redor de um morro verde que derrepente mostrou seu fim. Observou pessoas andando sob o plano que aparecera, pensou que estava perto. Continuo andando, o céu se escureceu, mas não de um jeito normal, foi questão de passos. Percebeu que conforme ia e voltava andando, o céu era claro e escuro.
Foi quando encontrou logo a sua frente algo que jamais imaginara encontrar. Uma fábrica! Fábricas como aquela haviam sido exterminadas a décadas. Ninguém sabe ao certo, mas Zorzo tem uma suposição...
O caminho para a entrada dessa fábrica era suspenso no ar e abaixo desse caminho havia um mar de magma. Então Zorzo percebeu algo particular: as pessoas andavam ao redor do espaço dessa fábrica como se estivessem andando ao redor de um quadrado. Sim! Grande Plano Branco. Mais uma vez aquela visão da fábrica só poderia ser vista por ele. Todos viam aquilo com um grande plano branco e nada mais.
Havia uma estrutura de aço bem alta sob a fábrica. Provavelmente fosse uma antena. Era tão alta que se escondia depois das nuvens escuras. E as nuvens escuras refletiam luzes que pareciam esconder raios.
Antes de ir embora para descansar, percebeu que passavam pelo caminho suspenso no ar seres que não continham bolas de plasma
Zorzo começou a se preocupar. Era muita confusão para sua cabeça poder decidir o que fazer. Tanto porque ele sozinho seria capaz de muita coisa...
1- ''Mesmo conseguindo ver o que ninguém podia ver, nunca conseguiria definir o que via. Era um humano, assim como todos os outros. Pensava e sentia, era confuso e misterioso como arcos elétricos que iluminavam suas cabeças. E algo que, não podia fazer parte do corpo, somente poderia ser alimentado e manipulado. Assim como..."
Não dormiu. Precisava saber mais do que vira. Foi de novo ao ''grande plano branco''. Queria tentar entrar na fábrica. Derrepente! Quando se aproximou do cominho suspenso no ar, o chão começou tremer! Olhou para a estrutura de aço e vários raios a percorreram! Ouviu tiros. E observou que sombras no céu refletido de luzes eram enviadas para longe! Zorzo correu. Chegou no ponto onde o céu não era mais escuro. Havia uma espiral branca e preta, hipnótica, que girava que ocupava uma parte do céu! O centro da espiral era curvado para o fundo. A maioria das pessoas com suas bolas de plasma se agrupavam embaixo do centro dessa espiral. Zorzo correu. Haviam vários pontos de espirais espalhados pela cidade. Zorzo correu...
Chegou ao seu prédio, subiu ao apartamento, e percebeu que havia uma enorme espiral logo após sua janela, e abaixo dela, milhares de pessoas amontoadas. Desmaiou! Foi um mecanismo de defesa de seu corpo. Era tanta confusão e medo que a unica ação só poderia ser se jogar do prédio, ou simplesmente esperar. Seu corpo nesse momento tinha auto declarado que o melhor a ser feito era esperar, e portanto desmaiou Zorzo.
Nada poderia informar quanto tempo ficaria desmaiado, talvez tempo suficiente para privar qualquer ação instintiva da realidade e refletir tudo num sonho confuso e forte.
1- ''Quando algo é óbvio demais ou comum, sempre terá um valor constante atribuído. É capaz de cegar a imagem, passa apenas existir. E o caos de sua mudança pode ser somente propagado sobe estado constante e prolongado tempo. Assim como um...''
Skins e Zyrots(tem diferentes responsabilidades, são seres de aparência semelhante a dos humanos porem tem uma fenda no pescoço, os quais não possuem bola de plasma) já haviam descoberto o ''poder'' que Zorzo tinha em conseguir observar suas ações. Mas isso era o menor dos problemas. Comunicaram a central do Grande Plano Branco e o que deveria ser feito era óbvio. Foram até o apartamento de Zorzo, colocaram ele em sua cama e injetaram um líquido laranja gaseificado em sua veia. Equiparam os pés de sua cama com rodas e por fim vestiram seus capacetes quadrados e brancos. A partir de agora eram invisíveis para o mundo dos humanos.
Zorzo foi levado em sua cama com rodas para o Grande Plano Branco. No caminho pela cidade haviam pirâmides de pessoas amontoadas tentando chegar no centro das espirais. Era uma briga lenta e sem fim para quem conseguisse estar no topo da pirâmide e poder ter aquele prazer de tocar seu centro.
1- ''Nada! Algo ou alguém que não sabe o que é. Nada! Algo ou alguém que não sabe o que quer. Nada! Algo ou alguém que não sabe o que faz. Nada! Algo ou alguém que não sabe o que pensa... Algo ou alguém que olha para os lados e vê seis faces de concreto se contraindo e se contorce até que por fim libere energia numa explosão ou simplesmente suma. Perdi noções de espaço e tempo. Não possuo mais condições, mas tenho projetado uma coisa que observe...''
Tudo se apagou.
2- ''Prazer, Redety. Aquilo que se refere ao ser que agora está se comunicando é constituído por placas eletrônicas que apenas trocam impulsos elétricos. Sim, o ser que se comunica agora é um computador, porém tem esse nome porque é ligado a milhares de sensores pelo planeta e nas ''pessoas'' que a partir de agora existem. Codifica todas as informações e apresenta-as. Estados de nervosismo e euforia são interpretados através sensores que captam os pulsos cardíacos...''
2- '' bip, bip, bip. Amostras sendo cálculadas. Amostras sendo apresentadas:''
E então é executado um grasnido alto e agudo que é ecoado pelo ambiente inteiro. É repetido em espaços de tempo longo e seu eco tem um ar sombrio e solitário. Começam a diminuir o espaço de tempo em cada grasnido, que se repete várias e várias vezes. Silêncio. Aves grandes e pretas começam bater asas estando em cima de uma árvore alta e seca que por um impulso de suas pernas passam a voar.
O ambiente é seco e abafado, a umidade da terra é tão baixa que se formaram infinitas rachaduras. Menos nas ruas. As ruas são de terra batida que é mais escura. Elas contornam as antigas casas e prédios que agora estão destruídos pelos antigos habitantes. Só existe uma coisa que anda pelas ruas. É um tipo estranho de automóvel, emite um som muito grave e contínuo que parece com o barulho de um motor, mas se propaga parecendo um sopro de vento bem concentrado. O formato desse automóvel é bem semelhante de uma caveira de animal equino ou bovino porem haviam duas metades de caveira separadas no meio onde circulava ar.
Não faz sentido, mas parecia ser bem legal.
Tudo se apagou!
1- ''Quando corremos, temos chance de tropeçar antes de chegar no fim. Quando caminhamos, temos chance de não chegar no fim. E quando chegamos, nós temos saudade...
E existem momentos que sinto uma felicidade intensa, chega mudar a dimensão de tudo ao meu redor. Aos poucos essa felicidade começa se tornar confusa e angustiada. O que antes dava uma visão bonita, passa tornar tudo sombrio e solitário. Sim, seres humanos são erros que propagaram-se pelo tempo e espaço. Precisamos...''
2- '' bip, bip, bip. Amostras sendo cálculadas. Amostras sendo apresentadas:''
Uma gota cai em uma piscina de aço (com 2 centimetros de agua) que contorna o planeta. Produz um som ressonânte e agudo, o qual é transmitido por uma onda que é partida ao se chocar num único ponto.
Zorzo acorda! Seu corpo esta imóvel, não consegue contrair seus músculos. Despertou por causa de um barulho que havia sobre ele. Era como se fosse uma gota caindo que ressoava de uma forma longa...
Percebeu então que estava numa embalagem de vidro com uma tampa de aço por cima! Olha para os lados, existem dezenas de potes com seres idênticos a Zorzo! Todos em pé, com os olhos fechados e uma fenda no pescoço. Ficou desesperado! Cai derrepente! Seu corpo não estava mais travado, mas ainda estava desacostumado em poder se mecher. Aos poucos levanta e toma controle de seu corpo novamente. Zorzo ainda não havia percebido mas estava dentro de uma caixa que andava sob uma esteira e existia algo ou alguém que era muito maior que ele. Esse ser observava todas as caixas que passavam por essa esteira e pegava os erros de fabricação (humanos) para jogar no mar de magma.
Não sabia disso, mas sabia que precisava sair dali o quanto antes. Balançou o pote se jogando contra sua parede até que pudesse tombá-lo. O pote se quebrou. Junto com ele outros quantos potes se quebraram. Outros seres idênticos a Zorzo despertaram e logo perceberam que ele era um humano...
E o grasnido volta a ecoar pelo ambiente deserto, aves grandes pretas sobrevoam a grande fábrica que tem sua base fina, no centro uma barriga e seu topo largo com entradas de ar.
Zorzo sobe a parede da caixa pulando através de um pote enquanto tentam o pegar. Olha para baixo e observa a esteira carregando sua caixa. Pra baixo da esteira existem milhares de outras esteiras direcionadas para todos os lados. Não tem saída, quando observa...
Uma ave grande e preta decide entrar na fábrica por uma entrada de ar, passeia pelas esteiras. Quando derrepente é agarrada pela pata, assustada sai da fábrica. Vôa até a pequena floresta de árvores vivas longe dali. Zorzo pousa numa dessas árvores e desce até a terra.
1- ''Perdidos novamente. É difícil imaginar uma ação quando tudo ao seu redor é tão grande e distante, quando tudo ao seu redor parece destruído e perdido.
Sentes falta, estas sozinho. Mas uma ...''
Passeia pela escuridão. Sente um vento frio e seco passar pela sua face. Só lhe resta andar. Aos poucos começa perceber uma luz azul e fraca. Isso o intriga. Tenta se aproximar, mas fica mais distante. Será que...?
2- '' bip, bip, bip. Amostras sendo cálculadas. Amostras sendo apresen... POOOW!''
Tudo se apagou!
3- ''Prazer, Deus. Parece ironia eu aparecer depois de uma máquina, mas garanto que talvez pareceria muito mais ironia eu aparecer depois de um humano. Redety precisou explodir. Tem coisas que seus sensores não podem interpretar, e como ele era uma máquina esforçada seu corpo elétrico e mecânico auto-declarou que deveria explodir. Seus sensores poderiam se aproximar muito do que se passava com um humano, mas humanos como Zorzo não podia agir com a mesmo interpretação. Porque afinal, humanos são erros que se propagaram. N° 3 surtou, ser algo ou alguém que não sabe o que é, que não sabe o que quer, muito menos o que pensa e o que faz, surtar esta dentro da normalidade. Mas e Zorzo? Nosso personagem principal... nosso humano.
Bom, deixo um recado apenas:
Quando teu corpo se despedaçar, e teus pedaços se tornarem sólidos embaralhados e unidos, não te esqueças que um dia plantaste uma semente no teu corpo. Uma flor nascerá. E junto dela um infinito desconhecido. Que será iluminado por raios de luz e refletiras formatos e cores bem definidos. Porem tua sombra... a sombra da outra face... aos poucos irá se desprender, sendo arrancada por uma gravidade distante. Fazendo que um lugar com seus anéis de bolas seja cravado de balas. E então...''
Este é o fim
Fiori.